quarta-feira, 16 de março de 2011

O homem para Sócrates


SÓCRATES E A NATUREZA HUMANA
           
            Partindo da temática: “Sócrates e a natureza humana”, a seguinte pesquisa tentará apresentar uma solução para o problema que indaga sobre o que é a natureza ou realidade última do homem. Tal solução dar-se-á por meio da tese a que se concluirá, a partir da fundamentação teórica que, para Sócrates, o homem é a sua alma – psyché. Visando alcançar o objetivo geral da pesquisa, que, a partir do pensamento de Sócrates, pretende comprovar que o homem é a sua alma – psyché, tentaremos demonstrar que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo, pois, o próprio corpo.
            O corpo, para Sócrates, é considerado um instrumento da alma. Todo instrumento pode receber seu apreço ela função que exerce, sendo por isso elogiado ou criticado por não corresponder ao seu objetivo ou por implicar limitações.
            Sócrates dirá:

Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos dum lado que, quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente. (PLATÃO. Fédon – a morte como libertação do pensamento. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 66.(Os Pensadores)

O filósofo, ao dizer da impossibilidade de se alcançar a verdade com a ajuda do corpo, expõe que apenas por meio da alma se alcança aquilo que ele denomina verdade. E a alma somente pode atingir a verdade uma vez que separada do corpo, na morte.
            Para Sócrates, a alma se apresenta como uma substância específica imaterial, não composta e essencialmente distinta do corpo material. Evidentemente, se a essência do homem é a alma, cuidar de si mesmo implica em cuidar da própria alma mais do que do corpo. Assim, não se pode responder que o homem é o seu corpo, mas que ele se serve do seu corpo. Por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe em virtude de sua história, uma personalidade única. Aquilo que se serve do corpo, para Sócrates, é a alma – psyché – e, com isso, ele conclui que é a alma que ordena o homem ao conhecimento e o adverte a conhecer, sobretudo, a si mesmo.
            Concluímos, portanto, que, à questão sobre o que é a essência do homem, sua natureza e realidade última, Sócrates responde que o homem é a sua alma e a entende como razão e sede da atividade pensante e, por meio dela – alma –, o homem age eticamente na sociedade, sendo assim, o consciente onde habita a virtude. A alma é a consciência e a personalidade intelectual e moral.

Aldo César dos Reis Borba Júnior
Graduando em filosofia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

PLATÃO. Fédon – a morte como libertação do pensamento. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 66.(Os Pensadores)

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 210; 211.

REALE, Giovanni. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 87. (Coleção filosofia)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Areté: Hesíodo e Homero

ARETÉ: A VIRTUDE COMO TRABALHO DIGNO E PRINCÍPIO FORMADOR QUE QUALIFICA O HOMEM


Esta pesquisa pretende, a partir da fundamentação teórica acerca dos autores – a saber: Homero e Hesíodo - esclarecer o conceito de areté na perspectiva de Homero e Hesíodo. O que seria então areté? É possível termos duas formas de areté ou este conceito defini-se pela posição social que ocupa quem define tal conceito? Partindo da bibliografia pesquisada tentaremos responder tais indagações.

A virtude (areté) não vem da riqueza, mas sim a riqueza da virtude, bem como tudo o que é bom para o homem, na vida particular ou na vida pública. (Platão, Cit. In Cordón & Martinez, 1995: pág.110)

 Como tema fundamental para a educação grega sempre presente nas grandes discussões que o séc. V a. C. conhece, areté vincula-se à formação, sobretudo em Homero, pelo fato de que formar é tornar o homem melhor, mais virtuoso.
Em Homero, na Ilíada e na Odisséia, o termo areté aparece de forma explícita. A areté é algo que necessariamente precisa ser procurado e conquistado. O herói homérico é definido pela areté. Areté pode significar uma qualidade do corpo, tal como força ou agilidade (Ilíada, canto XX, verso 411). A noção de areté, como virtude, significava o mais alto ideal cavalheiresco aliado a uma conduta cortesã e ao heroísmo guerreiro.  Também era identificada a atributos da nobreza, e, em seu mais amplo sentido, não significava não apenas a excelência humana, mas também a superioridade de seres não-humanos, como o poder e força dos deuses ou a rapidez dos nobres cavalos.
Só em alguns momentos, nos livros finais das epopéias, Homero vai identificar areté com qualidades morais ou espirituais. Em termos gerais, significa força e destreza dos guerreiros, valor heróico intimamente ligado à força física. Em Homero, a virtude é, portanto, atributo dos nobres, os aristoi. Aristoi são os possuidores de areté que, sendo parte de uma minoria que está acima da multidão de homens comuns. A virtude está estreitamente associada às noções de honra e de dever, representa um atributo que o indivíduo possui desde o seu nascimento e que lhe é manifesto a partir de antepassados ilustres.

Vejamos a declaração de Aquiles:
Mandou-me para Tróia, recomendando-me com insistência que fosse sempre valente (aristeúein) e superior aos outros, a fim de não envergonhar a linhagem paterna, a mais conceituada (áristos) em Éfira e na vasta Lícia. (Ilíada, canto VI, versos 207-210)
Aquiles desmonstra, com clareza e precisão, o objetivo do herói descrito por Homero. É evidentemente superior aos outros, alguém que deva instaurar seu nome na memória das gerações posteriores, mesmo que para isso, sua própria vida seja breve em detrimento da glória
            Diferentemente da definição que descrevemos acima, na qual concebemos uma sociedade aristocrática onde os trabalhadores são vistos como seres inferiores, Hesíodo traz à reflexão, textos nos quais o trabalhador é revestido de dignidade.
            Hesíodo tenta demonstrar que o ato heróico não se manifesta apenas na ação dos guerreiros homéricos. O heroísmo também pode ser encontrado no trabalho dos camponeses. Para Hesíodo o bem estar provém da areté dos trabalhadores e o único meio pelo qual é possível alcançá-la está no trabalho.
            A justiça para Hesíodo, além de ser uma qualidade humana (areté) é uma deusa, filha de Zeus, que anda entre os homens analisando a aplicabilidade da justiça humana e punindo com  a justiça divina as injustiças observadas.
“A partir de Hesíodo, surge a idéia de que areté (virtude) é filha do esforço e o trabalho é o fundamento e a salvaguarda da justiça.” (Os Pré-Socráticos, p 13)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

HOMERO – Ilíada, tradução de Carlos Alberto Nunes, Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
Os Pré-Socráticos – Vida e Obra. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 7-13. (Os Pensadores)