quinta-feira, 3 de março de 2011

Areté: Hesíodo e Homero

ARETÉ: A VIRTUDE COMO TRABALHO DIGNO E PRINCÍPIO FORMADOR QUE QUALIFICA O HOMEM


Esta pesquisa pretende, a partir da fundamentação teórica acerca dos autores – a saber: Homero e Hesíodo - esclarecer o conceito de areté na perspectiva de Homero e Hesíodo. O que seria então areté? É possível termos duas formas de areté ou este conceito defini-se pela posição social que ocupa quem define tal conceito? Partindo da bibliografia pesquisada tentaremos responder tais indagações.

A virtude (areté) não vem da riqueza, mas sim a riqueza da virtude, bem como tudo o que é bom para o homem, na vida particular ou na vida pública. (Platão, Cit. In Cordón & Martinez, 1995: pág.110)

 Como tema fundamental para a educação grega sempre presente nas grandes discussões que o séc. V a. C. conhece, areté vincula-se à formação, sobretudo em Homero, pelo fato de que formar é tornar o homem melhor, mais virtuoso.
Em Homero, na Ilíada e na Odisséia, o termo areté aparece de forma explícita. A areté é algo que necessariamente precisa ser procurado e conquistado. O herói homérico é definido pela areté. Areté pode significar uma qualidade do corpo, tal como força ou agilidade (Ilíada, canto XX, verso 411). A noção de areté, como virtude, significava o mais alto ideal cavalheiresco aliado a uma conduta cortesã e ao heroísmo guerreiro.  Também era identificada a atributos da nobreza, e, em seu mais amplo sentido, não significava não apenas a excelência humana, mas também a superioridade de seres não-humanos, como o poder e força dos deuses ou a rapidez dos nobres cavalos.
Só em alguns momentos, nos livros finais das epopéias, Homero vai identificar areté com qualidades morais ou espirituais. Em termos gerais, significa força e destreza dos guerreiros, valor heróico intimamente ligado à força física. Em Homero, a virtude é, portanto, atributo dos nobres, os aristoi. Aristoi são os possuidores de areté que, sendo parte de uma minoria que está acima da multidão de homens comuns. A virtude está estreitamente associada às noções de honra e de dever, representa um atributo que o indivíduo possui desde o seu nascimento e que lhe é manifesto a partir de antepassados ilustres.

Vejamos a declaração de Aquiles:
Mandou-me para Tróia, recomendando-me com insistência que fosse sempre valente (aristeúein) e superior aos outros, a fim de não envergonhar a linhagem paterna, a mais conceituada (áristos) em Éfira e na vasta Lícia. (Ilíada, canto VI, versos 207-210)
Aquiles desmonstra, com clareza e precisão, o objetivo do herói descrito por Homero. É evidentemente superior aos outros, alguém que deva instaurar seu nome na memória das gerações posteriores, mesmo que para isso, sua própria vida seja breve em detrimento da glória
            Diferentemente da definição que descrevemos acima, na qual concebemos uma sociedade aristocrática onde os trabalhadores são vistos como seres inferiores, Hesíodo traz à reflexão, textos nos quais o trabalhador é revestido de dignidade.
            Hesíodo tenta demonstrar que o ato heróico não se manifesta apenas na ação dos guerreiros homéricos. O heroísmo também pode ser encontrado no trabalho dos camponeses. Para Hesíodo o bem estar provém da areté dos trabalhadores e o único meio pelo qual é possível alcançá-la está no trabalho.
            A justiça para Hesíodo, além de ser uma qualidade humana (areté) é uma deusa, filha de Zeus, que anda entre os homens analisando a aplicabilidade da justiça humana e punindo com  a justiça divina as injustiças observadas.
“A partir de Hesíodo, surge a idéia de que areté (virtude) é filha do esforço e o trabalho é o fundamento e a salvaguarda da justiça.” (Os Pré-Socráticos, p 13)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

HOMERO – Ilíada, tradução de Carlos Alberto Nunes, Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
Os Pré-Socráticos – Vida e Obra. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 7-13. (Os Pensadores)

Nenhum comentário: