terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ensaio literário sobre a origem do relacionamento entre a razão e a fé

Ensaio literário da origem do relacionamento entre razão e a fé


Há muitos anos atrás, quando o nada era criado apartir do Tudo e se transformava em matéria existencial, nada se poderia dizer a respeito do pensamento daquele que viria a ser a criatura surgida do nada pela simples bondade do Tudo.
Naquele tempo era comum o nada contemplar o horizonte ao seu redor e avistar o reflexo de si mesmo resplandecido no imenso espelho do Tudo. De tanto refletir a imagem não-existencial do nada, o Tudo decide criar algo além, depois de criar o nada, o Tudo elabora um plano de criação para superar “tudo” aquilo que Ele já havia feito. Então Ele cria a razão, e desenvolve um projeto que dê razão a essa criação. Esse projeto é pleno e extremamente complexo, porém não está terminado. O Tudo, tendo várias razões para criar muito mais, decide então, criar algo jamais imaginado por qualquer nada que houvesse habitado no mundo ainda não existente.
Da razão que o Tudo tinha para continuar criando, surge algo que foi carinhosamente chamado de Universo, em outro momento Ele o chamou de mundo, mundo que passará a hospedar o Tudo e o nada.
O Tudo viu que tamanha obra estava precisando de “algo mais”. E Ele tinha razão. O nada ainda tinha muito espaço para si, e não havia nada para preencher tal espaço.
Neste momento, o Tudo olhou para o espaço que havia criado, e contemplando o mundo existencial que acabara de criar, resolveu tirar o poderio que o nada exercia sobre o Seu mundo, Sua criação, obra de sua razão. Foi aí que o espaço preenchido pelo nada começou a ser questionado pelo Tudo. Mais uma vez Ele tinha razão. Não poderia deixar toda essa obra para a habitação do nada.
Então o Tudo decidiu criar algo que ocupasse parte do espaço que o nada dominava. E Ele criou algo fascinante aos Seus olhos e aos olhos transparentes do nada.
Por fim, Seu mundo já estava belíssimo, cheio de obras magníficas e rejubilantes. O Tudo olhou, e viu que ainda havia um grandioso espaço habitado pelo nada. Ele queria criar algo que ocupasse este espaço. E tinha toda razão.
De uma matéria criada pelo Tudo chamada terra, surge através do nada uma criatura extremamente diferente daquilo que o nada poderia imaginar. O Tudo, na Sua bondade, concedeu à sua criatura o privilégio de ter a imagem e semelhança parecidas com Ele. Essa criação foi carinhosamente chamada de “homem”, ou posteriormente: ser-humano.

O fato de se parecer com o Tudo, deixou o homem repleto de alegria, podendo até mesmo utilizar a razão. O Tudo tinha razão em criar o homem, e o criou racional.
O homem habituou-se ao modo racional de lidar com as coisas existentes no mundo. Que também são obras do Tudo.
Passaram-se vários anos, séculos, milênios, e a razão do homem foi se desenvolvendo gradativamente.
Nesse período de evolução consciente da razão do homem, surgem no intelecto da existência generalizada do “mundo racional” duas “famílias”.
Essas famílias foram criadas pelo Tudo, que ao perceber a evolução do pensamento do homem, colocou-as no “mundo intelectual” de suas criaturas humanas.
A primeira família era de descendência real, tinha por sobrenome “Theos”, e era composta pelo Pai e seus vários filhos.
A outra família era de origem nobre e intelectual, tinha por sobrenome “Philos” e seus membros eram a mãe e seus filhos.
Numa curva da estrada intelectual do raciocínio humano, ambas as famílias se encontram, por ocasião do aniversário do Grande Rei: o Tudo.
O Pai da família Theos cumprimentou a Sra. Philos e seus respectivos filhos fizeram o mesmo entre si.
A Sra. Philos não tinha razão para continuar a conversa, pois ambos ainda não se conheciam.
O Sr. Theos voltou para o seu recanto paradisíaco e continuamente instruía seus filhos, ensinando-os a crerem na onipotência do Tudo e obedecerem a Seus preceitos.
A Sra. Philos ao voltar para o seu palácio intelectual, ensinava seus filhos a serem estudiosos e a viverem a razão do Tudo.
Em outra ocasião, as duas famílias se encontraram novamente, desta vez em uma alegre festa, na qual era comemorada a evolução do pensamento humano.
O Sr. Theos e a Sra. Philos foram se aproximando cada vez mais, até se tornarem amigos.
Numa bela tarde de Outono o Sr. Theos resolve fazer uma visita a Sra. Philos, para lhe oferecer umas flores colhidas na Primavera da sabedoria racional criada pelo Tudo.
A relação de amizade entre ambos foi se estreitando rapidamente, de tal forma que seus filhos não gostaram.
O Sr. Theos propôs a Sra. Philos unirem-se para juntos empenharem-se rumo à verdade que ainda era questionada por muitos. A Sra. Philos aceitou o convite e aceitou se casar com o Sr. Theos, uma vez que ambos eram viúvos e poderiam casar-se novamente. Porém, seus respectivos filhos não aceitaram tal decisão, pois alegavam que não seria possível uma relação entre a razão que os filhos da Sra. Philos estudavam com a fé praticada pelos filhos do Sr. Theos.

As mais importantes famílias do País coordenado pela razão do ser-humano e habitado pela inteligência refletida na ciência da sabedoria prática, estavam prestes a se unirem. O Tudo tinha razão.

Após a aceitação dos filhos, o Sr. Theos e a Sra. Philos puderam se casar. Foi magnífica a cerimônia na qual acontecia a maior união de todos os tempos.
Passado muito tempo, o casal teve duas filhas que foram carinhosamente chamadas: Logia e Sophia. Porém, herdaram os nomes de seus pais: Theos e Philos, e foram chamadas: Theologia e Philosophia.
A Theologia sempre procurou trilhar os caminhos de seu Pai Sr. Theos, crendo no poder do Tudo, amando-O e fazendo conforme Sua vontade. Já a Philosophia estava mais ligada á sua mãe, questionando tudo o que via, procurando indagar tudo quanto existia na realidade a qual estava inserida.

E, assim, trilhando por caminhos "distintos", as duas filhas do Sr. Theos e da Sra. Philos foram em busca daquilo que fez com que se encontrassem pelo caminho: a Verdade, e a Verdade era o Tudo.

Sem. Aldo César dos Reis Borba Júnior
Para a Glória de Deus e para a Igreja

sábado, 5 de setembro de 2009

Operários do interno

Operários do interno


Na atualidade e em todos os tempos da história humana, o termo trabalho é empregado para designar uma ação externa do homem ou de algo que possa fazer com que alguma matéria se transforme ou simplesmente seja movida. Essa palavra nos faz lembrar as lutas operárias e das grandes revoluções que afetaram não somente o modo pelo qual as coisas são transformadas ou movidas, mas também todo o modo de viver e pensar do ser-humano.
O trabalho proporcionado pelas mãos humanas evoluiu-se a tal ponto de ser substituído por mãos de aço que não se cansam, não sentem fome, nem dor, principalmente a dor.
Toda a evolução desse trabalho pode ser caracterizada por um fator predominante na época em que vivemos: a comodidade.
O homem não precisa mais utilizar as suas próprias mãos para plantar a semente, e com um simples “apertar de um botão” faz com que toda a sua terra esteja semeada com os melhores grãos. Isso é comodidade.

Trabalhar a terra, o ferro, a madeira; transformar as coisas denominadas “matéria-prima” em instrumentos de praticidade tem sido uma das maiores conquistas da humanidade.
Na tumultuada situação trabalhista em que vivemos, o homem esqueceu-se de uma coisa simples e necessária. No meio de tantos desafios tecnológicos, evolutivos e financeiros, principalmente financeiros, a pessoa humana se esqueceu de trabalhar a si própria. Isso é comodidade.
Diante de uma constante e caótica correria do dia-dia; diante do turbulento barulho do trânsito, das máquinas ensurdecedoras que se abrigam não muito longe dos nossos ouvidos, daqueles que assaltam o nosso silêncio e fazem com que abandonemos o nosso pensamento que incansavelmente tenta procurar um oásis calado e sereno; diante de um mundo que não permite que o homem pare, contemplamos uma situação complicada.

O homem tem trabalhado muito em meio a tantas construções, obras magníficas com formas que desafiam a gravidade, porém, não é capaz de parar. Parar para si, para o outro e para Deus.
O ato de parar, não implica que o homem deva deixar de trabalhar, pelo contrário, é quando ele pára, que pode então iniciar outra obra. Uma obra que não é feita de concreto, não se usa aparelhos ou tecnologia, não se precisa das máquinas. É quando o homem silencia sua voz e suas ações externas, para falar e trabalhar o interno, o principal. É quando ele se torna um operário interior.

Quando o operário externo se torna um operário do interno, inicia o percurso da via do silêncio, e chega a um deserto árido no qual se pode avistar as ruínas de seu castelo interior.
Deseja chegar ao castelo, mas percebe a dificuldade imposta pelo deserto, e aos poucos vai caminhando; um peregrino espiritual, que caminha no mais profundo de seu ser, um caminheiro no deserto de suas próprias limitações, fragilidades e dificuldades. Um operário rumo à obra mais importante de sua vida. Um trabalhador.

O operário do interno atravessa o deserto e supera a aridez bebendo da fonte que jorra cristalina no coração de sua fé.
Quando ele começa a construir as colunas de seu castelo ou de sua simples morada espiritual, que são feitas com tijolos de silêncio apanhados num deserto distante, ele faz de si um novo operário, um construtor de moradas interiores.
Ele não é mais um “mestre-de-obras”, um arquiteto da aparência. O barulho do mundo, as imposições da realidade e o externo que o rodeia não mais impede que o seu silêncio trilhe a estrada que leva ao seu castelo.
O trabalho não deve ser apenas uma atitude física que proporcione uma imagem visível; o trabalho do homem deve, antes de tudo, transformar, lapidar e dar brilho aos tijolos de seus castelos interiores ou de suas simples moradas espirituais.
E assim, o trabalho do mundo externo é diluído pela estrada do silêncio, onde passam por ela muitos operários, operários do interno.


Aldo César dos Reis Borba Júnior
Seminarista Diocesano