quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ENSAIO SOBRE A ORIGEM DO MUNDO

A origem, transformação ou criação do mundo pode ser pensada a partir de vários aspectos, tanto científicos quanto mitológicos ou religiosos. O presente ensaio tentará alcançar possibilidades coerentes que, ao menos, se aproximem de algo que sustente seus argumentos e esclareça a verdade ainda ofuscada pelas diversas teorias.

A mitologia grega demonstra-se rica em explicações sobre a origem do mundo. Primeiro nasceu o Caos, a existência indistinta; depois nasceram a terra (Gaia) e Eros. O Caos gerou a Noite, que gerou o Dia. A Terra gerou o Céu (Urano), as Montanhas e o Mar; uniu-se ao Céu (Urano) e gerou os Titãs, Réia, Têmis, Memória, os Ciclopes, fabricantes do raio, os gigantes, de cinquenta cabeças e cem braços, e Cronos, o tempo. [1]

Já Aristóteles, muito depois da era mitológica, ao falar sobre a origem do mundo dirá que o mesmo sempre existiu, é eterno. Seu deus é o primeiro motor e não é o criador do mundo. De modo não tão distante, Platão concebe a idéia do “deus” chamado demiurgo. Esse teria modelado o mundo segundo um plano definido, porém, não seguia seu próprio projeto, mas o modelo das Idéias eternas e, ele tinha de imprimir o selo das Idéias em uma matéria caótica e recalcitrante que ele próprio não havia criado. E, diante disso, ele – o demiurgo – se tornou um regulador que introduziu a razão em uma matéria irracional[2]. Platão considerava o universo visível como sendo também um ser divino, imagem do Deus supremo, que é o reino das Idéias.

A origem do mundo, ou simplesmente sua criação, pode ser refletida de vários modos e a partir de aspectos tanto religiosos quanto científicos e filosóficos. Descartes afirma que o mundo físico é criado por Deus, uma vez que essa criação sustenta-se na onipotência divina, em nome da qual pode-se legitimamente supor que o mundo existe, como criação de um ser que tudo pode. Diversas religiões tradicionais têm em seus campos doutrinais e críveis, várias teses que tentam atribuir à um único Deus a origem do mundo. Hinduísmo, Confucionismo, Cristianismo, Judaísmo, entre outras religiões, trazem à reflexão o papel de seu deus na obra criadora do universo. Dirá um escrito Etíope da Sabedoria Africana: “Nós não vemos Deus, mas tudo o que vemos é obra Dele”.

Opondo-se à explicação mitológica acerca da origem do mundo, os antigos gregos pré-socráticos – criam que o mundo era um organismo vivo, a divina fonte de todos os seres vivos e até dos deuses. Os pré-socráticos consideravam a physis como o princípio de todas as coisas e, diante disso, até o ser divino era transformação a partir da matéria e juntos, deus e matéria, formavam um todo indiviso. Tales de Mileto considerava a água como origem de todas as coisas, e, segundo Aristóteles, os antigos expressavam a mesma idéia, de uma maneira mitológica, quando afirmavam que Oceano e Tétis estavam nas origens do mundo[3]. Heráclito, por sua vez, considerava o fogo como princípio de todas as coisas. Os quatro elementos de Empédocles (terra, água, ar e fogo) ostentavam os nomes dos deuses olímpicos; de sua união, pela força do amor, surgiram todas as coisas, o sol, a terra, as árvores e até mesmo os “deuses eternos”.[4]

Contrapondo a teoria da eternidade do mundo de Aristóteles e Platão, a Igreja Católica ensina que o mundo não existe desde toda a eternidade, mas teve um princípio no tempo. O progresso da física atômica permite inferir, pelo processo de desintegração dos elementos radiativos, qual seja a idade da terra, o que supostamente provaria o princípio do mundo no tempo, conforme discurso do Papa Pio XII no dia 22 de Novembro de 1951. Porém, isso ainda contradiz a tese de Tomás de Aquino, um dos principais pensadores da fé Católica. Tomás de Aquino guarda a maior fidelidade possível ao Aristotelismo que não rejeita completamente a hipótese da eternidade do mundo. O Aquinate, na primeira parte da Suma Teológica, afirma que somente pela fé se sustenta que o mundo não existiu sempre e nem é possível demonstrar este dado pela razão natural.[5]

Em oposição à origem do mundo por meio de um deus “criador” surgem vários argumentos. O filósofo inglês John Locke não aceitava a criação como obra a partir do nada. Para ele, o mundo só poderia ter sido criado por meio de uma elaboração ou ordenação de uma matéria já existente. Hegel não consegue imaginar a idéia de Deus sem a existência do mundo e a criação é concebida em sentido naturalístico, como evolução, ou em sentido idealístico, como atividade universal do espírito. O americano George Gamow explica a criação de maneira inovadora ao propor a “teoria moderna do Big Bang”. Segundo George Gamow, o universo expandiu-se rapidamente a partir de um estado inicial de alta compressão, o que teve como resultado uma significativa redução de densidade e temperatura. Logo depois, a matéria passou a predominar sobre a antimatéria. Depois de alguns segundos com a possível presença de alguns tipos de partículas elementares, o universo teria se resfriado o suficiente para surgirem núcleos de gases, como: hélio, lítio e hidrogênio. Após isso, formaram-se os primeiros átomos. E, em seguida, houve o preenchimento do universo através de sua expansão por um período de aproximadamente 15 bilhões de anos.

Concluindo, portanto, ao nos depararmos com as mais diversas teorias acerca da origem do mundo, percebemos também a necessidade do ato de acreditar em alguma delas ou em nenhuma. O mundo fora criado, transformado, movimentado, etc. improváveis teorias ainda falam de outras possibilidades pouco coerentes. Tendo sido algo, sem dúvida alguma, material – e ainda o é – o mundo é sempre um problema para os pensadores, sobretudo, quando se põe em pauta o problema de sua origem.

Aldo César dos Reis Borba Júnior
Seminarista diocesano graduando em filosofia

Bibliografia:

HESIODI – Theogonia Opera et dies Scutum. Edidit Friedrich Solmsen. Fragmenta selecta ediderunt. R. Merkelbach ET M. L. West. Oxford, Clarendon Press, 1966.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ROCHA, Ronaldo (org.). Diamante do Saber: Introdução ao estudo de Filosofia. Uberlândia: Edição independente.

[1] Hesíodo, Teogonia
[2] Platão, Timeu, 30
[3] Aristóteles, Metafísica, i, 3
[4] Empédocles, Os pré-socráticos, B 21, 23.
[5] Suma Teológica q. 46, a. 2, c.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O método da filosofia

O método da filosofia

O método da filosofia pode ser um conjunto de procedimentos racionais utilizados para o estabelecimento e a demonstração da verdade. Seu objetivo e utilidade consistem em conduzir bem a razão humana e procurar a verdade. Se, de fato, existe tal busca pela verdade, não se deve andar sem direção, pois mais importante que ter um bom espírito é aplicá-lo bem: método.


Platão aperfeiçoa o método Socrático que, por meio de perguntas destruía o conhecimento constituído e depois o reconstruía para procurar a definição do conceito. Aristóteles baseia-se nas descobertas de seus antecessores e as sistematiza. Na Idade Moderna surge a questão do método, na qual ele é questionado e, sobretudo ocorre a descoberta da subjetividade. Isso surge propriamente com Descartes, quando este, não procura a discussão que surge após a intuição, mas a própria intuição intelectual e o método para alcançá-la. Ele diz:

“Por método, entendo regras certas e fáceis graças às quais aqueles que as observam atentamente jamais suporão verdadeiro aquilo que é falso e chegarão, sem cansaço e esforços inúteis, ao conhecimento verdadeiro daquilo que eles podem alcançar.”


Seu método é inteiramente dominado pela razão.

De tal pensamento originam-se duas vertentes antagônicas: o empirismo e o racionalismo. Kant posteriormente, com o criticismo, tenta averiguar o alcance das afirmações racionais. Comte, com o positivismo, propõe um método considerando apenas aquilo que pode ser medido e controlado pela experiência e descartando as formas “imperfeitas” de conhecimento. Hegel desenvolve o método dialético na versão idealista e logo Marx e Engels com a proposta materialista. Não se confunde com a dialética platônica. Husserl dá inicio ao método fenomenológico, através do qual tenta superar o rompimento entre o racionalismo e o empirismo.


Alguns outros métodos poderiam ser citados, mas o que se quer dizer é que quanto à razão e ao senso existente em cada um dos homens, considerando a opinião dos filósofos que afirmam essa igualdade, concluímos, portanto, que a diversidade das opiniões está na direção dos pensamentos por caminhos diferentes sem considerar as mesmas coisas e não a possibilidade de uns serem mais racionais que outros.

Aldo César dos Reis Borba Júnior
Seminarista Diocesano

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Política ou politicagem?

A lei é uma ordenação da razão no sentido de que se apoia em considerações que a justifica. Para Aristóteles, filósofo grego que instituiu a política no Ocidente: “ordenar é o ofício do sábio”. A política é um meio pelo qual se ordena a razão, expondo-a em forma de leis que devem promover e assegurar o bem comum da sociedade.

O ser humano tem trabalhado em prol do desenvolvimento de novas leis, que propõe uma sociedade melhor, mas nem sempre os resultados são positivos. No sistema político do século 21 existem algumas falhas que comprometem sua finalidade. Essas falhas têm crescido gradativamente a ponto de chegarmos a uma possível crise, que no Brasil já é notável. As pessoas que possuem o encargo de “coordenar a razão” nem sempre são fiéis à política e ao sistema pelos quais ela é desenvolvida. Alguns políticos usam a arte de persuadir e ludibriar para conquistar a sociedade e fazer carreira, o que poderia ser chamado de politicagem, bem diferente do político que visa ao bem comum fundamentado na verdade.

Verifica-se, assim, que a maneira como os governantes vêm conduzindo a sociedade não está de acordo com os princípios da política. Faz-se necessário, então, que o povo exija atitudes sérias e responsáveis dos políticos para que, juntos, povo e governo construam uma sociedade realmente democrática e igualitária.

Aldo César dos Reis Borba Júnior

Seminarista Diocesano

Artigo publicado no "Jornal Correio de Uberlândia" - coluna: "Opinião do leitor"; edição do dia 03/02/2010

http://www.correiodeuberlandia.com.br/blog/CORREIOWEB/38/opiniao_do_leitor.html